CELSO COSTA – UM ARQUITETO DO FUTURO – Por Luiz Fernando Mirault Pinto – Físico e Administrador
Vi outro dia uma caneta hidrográfica, com traços paralelos, uma novidade espetacular para quem gosta de caligrafia e traços góticos. Lembrei-me que há mais de 20 anos eu vi uma caneta assim nas mãos de Celso Costa, que afilava as pontas de fibra das suas para traçar qualquer dimensão em escala de uma vez apenas, como a espessura de uma parede, em um projeto,
enquanto a prática era o preenchimento com nanquim.
A produção do seu escritório podia ser considerada industrial, pois os carimbos identificadores das pranchas eram gravados de forma igual por impressão serigráfica à medida que eram destacadas as folhas vegetais dos rolos.
Antes das impressoras coloridas, seus trabalhos manuais se destacavam não só pela perfeição do traço como pelas cores idealizadas com cera e pó xadrez, diversas cores, matizes e brilhos. Presenciei após o término de um projeto, vários vegetais serem cortados e filetados dimensionando-os para uma máquina de escrever IBM tipo “composer”, aquelas com margaridas e letras, substituindo a normografia, os gabaritos, e a demora na escrita da época. Suas plantas eram de tais formas diferenciadas que apenas olhar não satisfazia a curiosidade, mas o tocar atestava a realidade do processo.
A apresentação dos seus projetos, quando exigido, envolvia a elaboração de fotos e das maquetes.
Computadores e impressoras, nem pensar. Existiam arremedos de copiadoras cujas bitolas não permitiam a introdução das medidas normais das plantas, até então reproduzidas heliograficamente, aquelas de cor azul ou marron; mas eu estava lá, quando Celso deu informações sobre as copiadoras e as necessidades dos projetistas ao representante nacional, e tenho a certeza que seu tirocínio mexeu com o mercado, pois em algum tempo elas estavam no comércio.
Ensina que projetar volume é essencial apesar do mercado da construção civil ater-se ao dimensionamento em áreas. Seus projetos sempre se basearam numa modulação harmônica, permitindo a modificação e a disposição das áreas, independendo de cálculos estruturais desnecessários e com o máximo de aproveitamento. Essa prática foi aplicada aos hospitais, desde os centros cirúrgicos até as acomodações, assim como na diversificação dos seus projetos. Por outro lado se preocupa com o mínimo, nos deslocamentos com seus tempos e movimentos, nos custos, e nos supérfluos.
Adotou o computador, mas até hoje afirma que se trata apenas de uma ferramenta de trabalho na profissão, mas para quem sabe desenhar e projetar, e reforça: “antes de se desenhar um pentágono, é preciso saber o que se fazer com ele”.
Seu currículo é importante como exemplo, e apenas reafirma o resultado de suas idéias, portanto não há porque enumerar ou descrever suas obras ou participações sócio-políticas, pois para ele foram etapas cumpridas. Como idealista, lutou pela classe anos a fio, cerrou fileiras com partidos democráticos, emprestando seu nome, sua credibilidade à eleição de alguns políticos. Seu desprendimento e sua responsabilidade social me remetem a sua sala, no comando da COHAB, onde adotou idéias criativas e soluções geniais para suprir o déficit habitacional, onde um quadro emoldurava a foto do Pompilio, mendigo conhecido na cidade, com os dizeres “Não basta construir casas, é preciso construir homens”.
Aqueles que o conhecem reviveram nesse espaço o significado dos fatos. Os que ainda não tiveram essa oportunidade, certamente viveram de alguma forma um projeto de sua autoria. Posso afirmar que caneta que eu vi, era a “cara” de Celso Costa e apresentava todos os seus atributos, incluindo a visão do futuro.