1º Encontro Estadual de Arquitetos e Urbanistas é um marco na história da profissão no estado
No primeiro dia, o assunto abordado foi o urbanismo, a formação e a manutenção da qualidade de vida nas cidades. Quem ficou responsável por conduzir a mesa foi o assessor especial da presidência do CAU/MS, o arquiteto e urbanista Luis Eduardo Costa. Além dele, compuseram a mesa o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, o arquiteto e urbanista Ângelo Arruda, a arquiteta e urbanista da agência municipal de habitação de Campo Grande, Marta Martinez e a arquiteta e urbanista Fayez Risk.
Durante a segunda parte da noite, o tema abordado foi a questão da aprovação dos projetos arquitetônicos. Fizeram o uso da palavra a arquiteta e urbanista presidente do SINDARQMS, Samaria Rosa Souza, o analista supervisor da prefeitura municipal de Campo Grande, João Augusto Albuquerque Soares, o arquiteto e urbanista, coronel Joaquim Lopes e o arquiteto e urbanista Paulo Delmondes.
Na sexta-feira, a qualidade dos cursos de arquitetura e urbanismo no estado é que foram pauta para as discussões postas. Fizeram parte da mesa, os arquitetos e urbanistas Gogliardo Vieira Maragno, professor da UFMS e vice-presidente da ABEA, Emmanuel de Oliveira, professor da Uniderp, o arquiteto e urbanista Flávio Braga e a acadêmica da Uniderp, Letícia Pereira.
Já no sábado, os profissionais do interior do estado tiveram uma mesa direcionada aos assuntos pertinentes a realidade que encontraram quando decidiram atuar em cidades com menor densidade populacional. Formaram a roda de discussão, a vice-presidente do IAB, a arquiteta e urbanista Teresinha Rigon, representando a cidade de Dourados, o arquiteto Marcio Mello, pela cidade de Corumbá, o arquiteto Wilson Cavalcantti e por fim, representando a cidade de Três Lagoas, a arquiteta e urbanista Sandra Latta.
A gerente de fiscalização do CAU/MS, a arquiteta e urbanista Patricia Oliveira Georges avaliou positivamente o encontro, pois segundo ela, eventos como este servem como ponto de partida para que haja união entre a classe profissional, bem como para os profissionais conhecerem mais as entidades que o representam, que eles podem contar com o apoio institucional de órgãos como o CAU/MS, que tem como finalidade precípua a fiscalização e regulamentação do exercício da profissão, em todo o território nacional.
O fiscal do CAU/MS, Felipe Lordello respondeu algumas perguntas sobre as principais impressões a respeito do evento.
1 – Como você avalia a realização de eventos como este, que fomentam a discussão a respeito da valorização profissional, ensino e formação, mercado, urbanismo e aprovação de projetos?
O debate sobre a profissão do arquiteto e urbanista é sempre importante, a constante evolução dos conceitos sobre a função das profissões em geral ante a sociedade faz a necessidade de rever as atividades e os postos ocupados pelos arquitetos e urbanistas. Debater sobre valorização profissional, ensino e formação, mercado, urbanismo e aprovação de projetos nos faz avaliar quais as necessidades da sociedade e dos próprios profissionais, para poder atender melhor a população e o desenvolvimento social e urbano.
2 – A questão do urbanismo está em voga atualmente, na sua opinião qual o papel do arquiteto e urbanista no planejamento das cidades?
O urbanismo é uma atividade multidisciplinar necessitando de profissionais de diversas áreas, do assistente social ao legislador, mas é crucial o papel do arquiteto e urbanista como coordenador e gerenciador principal de tal atividade de planejamento. É de sua formação acadêmica o conhecimento aprofundado sobre o planejamento urbano e ninguém a não ser o urbanista é o indicado para desempenhar esse papel para a sociedade.
3 – Sobre a análise de projetos arquitetônicos junto aos órgãos públicos, quais as principais dificuldades que o arquiteto encontra na hora de ter seu projeto aprovado? Quais mudanças poderiam ser implementadas para agilizar esse processo?
São dois os principais problemas nessa questão, primeiramente a falta de um aprofundamento no assunto quando estudante com matérias na academia que desmistifiquem melhor a questão dos processos burocráticos referentes a arquitetura e urbanismo. Segundo é a falta de informatização dos órgãos públicos e da integração entre os mesmos, a quantidade de “movimentos” de um processo e por quantos setores ele deve passar aumenta consideravelmente o prazo de aprovação. Muitas vezes é necessário ir a mais de uma sede de órgão para dar entrada no processo de aprovação.
4 – A qualidade do ensino foi uma das questões levantadas na mesa de debate da sexta-feira. Na sua opinião, como deve ser a formação do profissional para atender as demandas da sociedade?
Primeiramente é preciso ver que as instituições de ensino estão completamente abandonadas, as privadas totalmente mercantilizadas e as públicas desprovidas de apoio financeiro para estruturar bons cursos e manter bons profissionais, portanto precisamos inicialmente reverter essa situação. É necessário também voltar a investir na pesquisa acadêmica, na extensão, atendendo o tripé do ensino superior. Só assim será possível formar bons profissionais para atender a demanda da sociedade.
5 – Mato Grosso do Sul concentra a maioria dos profissionais atuando na capital, na sua opinião, por que o interior do estado não é visado pelos arquitetos na hora de escolherem uma cidade para atuar? Há boas oportunidades de trabalho nessas regiões pouco exploradas?
A falta de estrutura de lazer, saúde, educação, transporte e etc. das cidades do interior do estado é um dos principais motivos da dificuldade de interiorização de profissionais em geral, além é claro da baixa remuneração dos serviços. Muitos estudantes vindos do interior para obter a graduação no ensino superior nos grandes centros retornam as suas cidades por terem raízes afetivas, mas os profissionais dificilmente investem na mudança pra municípios de menor porte. Oportunidades existem, mas as vantagens para contrabalancear esse tipo de mudança geralmente são poucas.
6 – Entidades como o SINDARQMS, o IAB, a ABAP e a ABEA, além do CAU/MS tiveram a oportunidade de se colocarem à disposição do público para perguntas no sábado de tarde, na sua opinião, estas entidades têm cumprindo o papel para o qual se despuseram? Como elas poderiam representar melhor a classe dos arquitetos e urbanistas perante à sociedade?
Há uma discussão muito grande quanto ao papel das entidades e do CAU e principalmente muita confusão e disputa quanto as suas funções e deveres, o que acaba gerando uma insatisfação muito grande entre os profissionais, mas esses mesmos profissionais muitas vezes não tem o menor interesse em procurar saber quais são as reais funções e deveres dessas entidades e órgão. Ao meu ver as entidades estão deixando muito a desejar no desempenho de suas funções, há muita discussão entre elas e também com o órgão público de regulação sobre o que foi feito ou que se deixou de fazer, quando na verdade elas deveriam deixar de cobrar a atuação dos outros e focar na sua própria atuação. Quando houver a real atuação dessas entidades, com consciência de suas funções e deveres e foco nas suas áreas de atuação e consequentemente a integração pacífica entre elas aí sim veremos o cumprimento de seus papéis.
Quem também pontuou algumas considerações sobre o encontro foi a fiscal do CAU/MS, Maiara Sommer:
1 – Como você avalia a realização de eventos como este, que fomentam a discussão a respeito da valorização profissional, ensino e formação, mercado, urbanismo e aprovação de projetos?
Eventos como este são agregadores porque podemos ouvir a opinião de vários profissionais, seus questionamentos e contribuições para a nossa profissão. Estamos em um momento muito importante da nossa profissão em que estamos buscando uma maior valorização profissional e esta deve ser iniciada por nós mesmos.
2 – A questão do urbanismo está em voga atualmente, na sua opinião qual o papel do arquiteto e urbanista no planejamento das cidades?
O arquiteto e urbanista tem o papel principal de pensar a cidade para a sociedade, de forma a contribuir para o seu desenvolvimento e cumprir com sua função social.
3 – A qualidade do ensino foi uma das questões levantadas na mesa de debate da sexta-feira. Na sua opinião, como deve ser a formação do profissional para atender as demandas da sociedade?
Acredito que a universidade é responsável por dar uma base ao aluno e é importante que este aprendizado tenha seguimento através dos estágios durante a faculdade e posteriormente com a educação continuada.
Já para o presidente do CAU/MS, o arquiteto e urbanista Osvaldo Abrão de Souza, eventos dessa natureza são sempre bem vindos, pois visam promover a discussão entre os arquitetos. “Este era um desejo represado de muito tempo, trazer os profissionais para a discussão, muito embora o CAU/MS venha realizando reuniões quase que quinzenalmente por meio de seus Grupos de Trabalho, os quais já vêem apresentando resultados concretos, como por exemplo a Minuta Referencial de Contratos para Projetos de Arquitetura, que inclusive foi apresentada em Brasilia, no CAU/BR. O advogado Elias Pereiza de Souza contribuiu grandemente para a realização deste trabalho, dado seu imenso know-how de mais de 30 anos de experiência, militando junto aos conselhos.
“Nesse evento, o esvaziamento das entidades se mostrou latente. As entidades têm feito muito pouco daquilo que lhes cabe. Estão deixando um vácuo, demonstrado pela ação encabeçada pelo arquiteto Rubens de Camillo. Elas precisam sem arejar, pois estão imobilizadas, por estarem nas mãos de grupos, pois não possuem mais o mesmo pique, o que é natural que aconteça com o passar do tempo. Restou claro a necessidade de que elas promovam as suas eleições utilizando de todos os meios para divulgar seu pleito. O processo democrático reclama este intento. Os jovens arquitetos precisam acreditar novamente nelas.”
“Já quanto ao que foi discutido nas mesas temáticas, a questão da qualidade ensino está muito aquém do desejado. Existe um descrédito grande do professor e do aluno. Os acadêmicos querem somente um título, sem realmente se importarem com uma formação integral.”
“O mercado da arquitetura e do urbanismo está sendo aviltado por aqueles que trocam a profissão pela venda de produtos, o que atinge frontalmente a questão da ética profissional. Nós possuímos um código que veda o recebimento de valores por vendas. Existe uma prática de mercado, chamada reserva técnica e em função disso o valor do projeto está sendo diminuído, porque os profissionais preferem receber comissão ao invés de cobrarem o valor correto de seus honorários. Por isso a tabela de honorários do CAU parece absurda. Os arquitetos se acostumaram com esse caminho torto que foi inventado por logistas, que criaram isso para fidelizarem os profissionais. Essa deformação não é o ideal. Isso está exigindo que o arquiteto trabalhe cada vez mais para ganhar cada vez menos.”
“Esse encontro é a uma manifestação da insatisfação dos profissionais arquitetos com essa falta de iniciativa das entidades. O CAU/MS pode, mas não deve promover essas discussões, que é espaço das entidades.
“Outra questão que gera muita confusão é quando relacionam o CAU/MS como se uma entidade fosse. O CAU/MS é uma instituição pública. Nessa confusão é atribuída ao órgão papéis e funções que não lhe cabe. Naquela mesa, o único que tinha algo para apresentar era o CAU/MS. Mas é natural. No CAU/MS o presidente é obrigado a fazer o que a lei manda. E nós só existimos há apenas dois anos”.
Entidades como a Associação Brasileira de Arquitetura e Urbanismo – ABEA, a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP, o Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, o Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas do Mato Grosso do Sul – SINDARQMS, além do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Mato Grosso do Sul, ente da administração pública federal, que tem como função orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da arquitetura e urbanismo, além de zelar pela observância dos princípios de ética e disciplina da classe, assim como pugnar pelo aperfeiçoamento do exercício da arquitetura e urbanismo, se fizeram representar durante a realização do encontro.